Acessibilidade para além da arquitetura

Participantes fizeram passeio com Libras e áudiodescrição. Foto: João Morais

Participantes fizeram passeio com Libras e áudiodescrição. Foto: João Morais

Por Débora Mikaely

Um encontro para conversar e vivenciar as dificuldades que pessoas com deficiência visual ou auditiva passam em cidades que não são projetadas para serem acessíveis. A atividade integrou a programação aberta do Urban Labs, no UTC Recife, e foi realizada no auditório da Oi Kabum! – Escola de Arte e Tecnologia, na tarde desta quinta-feira (26), com a gestora da Com Acessibilidade Comunicacional, Liliana Tavares.

Além da parte arquitetônica dos ambientes urbanos como ruas, rampas, elevadores e banheiros, uma das maiores dificuldades relatas é a acessibilidade comunicacional. Mesmo com a Libras – Linguagem Brasileira de Sinais, sendo a segunda língua oficial do Brasil, poucos a compreendem. E com a falta de conhecimento e interesse, acaba sendo mais difícil o relacionamento entre o deficiente e a sociedade.

Roberto Cabral, deficiente visual, relatou a grande necessidade de audiodescrição nos lugares públicos da cidade para simplificar o cotidiano dos deficientes, em pontos como transportes públicos e lugares turísticos. “Minha cidade ainda não é acessível porque se eu quiser ir a uma biblioteca, não terei acesso ao conteúdo daqueles livros, como todas as outras pessoas têm. Ela poderia ser acessível se houvesse o uso de tecnologias assistidas já existentes. Tem equipamento leitor de texto, que você coloca qualquer impresso e ele lê o que tem ali pra você. Isso beneficiaria pessoas cegas e também pessoas analfabetas”, explicou. Cabral reforçou ainda a necessidade de ações pedagógicas no intuito de quebrar os mitos relacionados aos deficientes. “Minha cidade poderá ser acessível a partir do momento em que a própria cidade não for deficiente, porque atualmente o conceito de deficiência não é a cegueira ou a surdez, e sim a relação da pessoa com o ambiente”, criticou Roberto.

Liliana Tavares conduziu as conversas. Foto: João Morais

Wiliane Holanda, professora de Libras – Linguagem Brasileira de Sinais. Foto: João Morais

Sentindo-se estrangeira no próprio país, por ser incompreendida, a professora de Libras, Wiliane Holanda, deficiente auditiva, falou sobre suas experiências e a necessidade de serem oferecidos cursos de libras para pessoas que trabalham com atendimento ao público. “Eu cresci e vivi muitas barreiras, tenho 28 anos, e até hoje eu nunca me senti realmente em um ambiente acessível”, relatou.

Ao final da conversa, os participantes fizeram um passeio com audiodescrição e Libras pelo Centro Histórico do Recife, no intuito de proporcionar o lazer e o acesso à história da cidade.