Parque Capibaribe é apresentado como projeto de baixo impacto

O projeto Parque Capibaribe foi um dos casos apresentados nesta quarta-feira (19), no II Fórum de Arquitetura e Construções Sustentáveis, realizado na Faculdade Maurício de Nassau, no Derby. A apresentação Parque Capibaribe: Um Caminho para Pensar em Projetos de Baixo Impacto foi conduzida por Djair Falcão, coordenador de Engenharia do INCITI – Pesquisa e Inovação para as Cidades, grupo de pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O engenheiro mostrou um histórico sobre o pensamento de sustentabilidade, desde o surgimento do conceito “ecodesenvolvimento”, na década de 70, até os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos em 2015, como plano de metas para 2030. “Na década de 80, ao mesmo tempo em que aumentavam as discussões sobre sustentabilidade, aumentava a exploração do meio ambiente e começaram a aparecer os primeiros grandes desastres ambientais, como o da usina nuclear de Chernobil, que matou cerca de 60 mil pessoas, entre 1984 e 2005”, comentou Falcão.

Passadas mais de quatro décadas desde que começou a se falar em sustentabilidade, Djair alertou para a lógica da conservação do meio ambiente, sempre atrelada ao desenvolvimento econômico. “Todos os autores que falam sobre desenvolvimento sustentável passam pelos fatores consumo, território, externalidades (risco de relativizar os danos ambientais, utilizando a prevalência da ótica de mercado) e mercado. É preciso trazer essas provocações pra gente pensar. A visão de sustentabilidade do mercado é diferente da sustentabilidade da humanidade”, disse o pesquisador do INCITI/UFPE.

Ele ainda citou a matriz Max Neef, que considera outros aspectos, como liberdade, felicidade, autonomia, criação e participação. “Nós todos temos o papel de refletir e dialogar. Um diálogo verdadeiro, sincero e que traga dados e evidências científicas pro pensamento urbano”, afirmou Djair, que apresentou o projeto Parque Capibaribe como um processo não-convencional, comparado à maioria das intervenções urbanas em espaço público, por possibilitar “mergulhar no território”.

Para desenvolver oParque Capibaribe, iniciado em 2013, através de parceria entre a Prefeitura do Recife e a UFPE, foram desenvolvidos estudos, pesquisas, análises e diagnósticos, observando paisagem, fauna e flora, margens do rio Capibaribe, mobilidade urbana, águas, morfologia, legislação existente, entre outros elementos. O processo contabiliza, até o momento, o envolvimento de 56 pesquisadores, em oito pesquisas empíricas e parcerias com 12 grupos de pesquisas de diversas instituições. Ao mesmo tempo, foram realizados encontros, consultas públicas, oficinas e debates, buscando o engajamento e a participação popular na definição dos rumos da cidade.

Atualmente, já está em funcionamento o Jardim do Baobá, situado nas proximidades da Estação Ponte D’Uchôa, no bairro das Graças, e está em processo de licitação o trecho da Via Parque das Graças, que fica entre as pontes da Torre e da Capunga. Na apresentação, Djair destacou esta última como uma ótima oportunidade que o projeto Parque Capibaribe teve para ampliar a participação da sociedade e implementar alternativas com menor impacto para o meio ambiente, uma vez que os moradores do bairro se posicionaram contra a implantação de uma via expressa para veículos, com quatro faixas, na beira do rio.

“Pode-se ver que é bem grande a diferença entre o que havia sido proposto antes e o que está previsto agora. A indústria do automóvel era privilegiada no primeiro projeto e a gente conseguiu um resultado muito bacana, priorizando o bem-estar da população”, considerou o engenheiro.

ANTES: O primeiro projeto para a beira rio nas Graças.

DEPOIS: A Via Parque das Graças, após alterações do Parque Capibaribe

Dentre as soluções com menor impacto escolhidas para o novo projeto, Falcão realçou o piso drenante, que ajuda a evitar alagamentos e a reduzir a poluição no rio. “Pouco se fala sobre isso, mas existe a poluição difusa das vias. No projeto inicial a água caía direto no rio. Quando viesse a chuva, ela lavaria a pista e os resíduos de borracha do pneu, óleo do carro, cairiam direto pro rio, o que seria muito danoso. Da forma como está atualmente, essa água antes vai ser filtrada pela terra, levando uma água mais limpa pro Capibaribe”, pontuou Djair.

Com as alterações feitas pelo Parque Capibaribe no projeto da beira rio das Graças, o INCITI/UFPE conseguiu reduzir o valor da obra em 33%, diminuir em 67% a área impermeável, e eliminar a supressão de 100% da vegetação existente para preservação de 60%, entre outros benefícios. Conheça mais detalhes sobre o projeto no bairro das Graças.

A professora de Engenharia Ambiental e Arquitetura da Uninassau, Andréa Barros, elogiou o Parque Capibaribe, no qual muitos de seus alunos participaram, durante a Ativação Capunga, realizada nas proximidades da Uninassau. “Esse é um projeto onde as pessoas podem opinar. Essa interação é muito importante porque todas as pessoas têm ideias maravilhosas e precisam de oportunidade para serem ouvidas”, comentou.