Parque Capibaribe abraça o bairro das Graças

Por Flora Noberto

O Parque Capibaribe está prestes a ser implantado no bairro das Graças. Depois da abertura do Jardim do Baobá, ainda em fase de experimentação, serão iniciadas as obras da segunda fase do Parque, ao longo de 950 metros na margem esquerda do rio, entre as pontes da Torre e da Capunga. O lançamento do edital de licitação foi feito pela Prefeitura do Recife em dezembro de 2016 e publicado no site da gestão municipal no último dia 25, no Diário Oficial do município.

O Parque Capibaribe no bairro das Graças é fruto de um convênio inovador estabelecido entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Dentro do convênio, o INCITI – Pesquisa e Inovação para as Cidades, grupo transdisciplinar da UFPE, elaborou soluções de projeto ouvindo a associação de moradores e desenvolvendo eventos locais com residentes e usuários de todas as idades.

A intervenção no bairro das Graças, promove áreas verdes livres, criando uma nova relação das pessoas com o rio e propiciando condições para hábitos de vida mais saudáveis e sustentáveis. O projeto prevê passeios onde pedestres e bicicletas compartilham o espaço e encurtam distâncias entre escolas e comércios do bairro. As vias para automóveis, de baixa velocidade, permitem o escoamento do fluxo interno do bairro para as ruas de distribuição do trânsito, favorecendo a co-presença de modais com segurança. Novas áreas de estar são propostas tanto para contemplação do público, como para recreação de crianças e adolescentes. Soluções urbanísticas criam espaços de aproximação ao rio, através de passarelas que percorrem as margens e píeres que permitem o acesso de pequenas embarcações.

As soluções urbanísticas propostas se infiltram por ruas que serão qualificadas para transformar a experiência de andar pelo bairro, criando conexões entre espaços verdes e públicos, de acordo com as diretrizes do Parque Capibaribe: recuperação ambiental, promoção da mobilidade não motorizada, integração sócio-espacial e ativação dos espaços públicos.

Novas áreas de estar são propostas ao longo da margem.

“O Parque Capibaribe aplica conceitos urbanísticos transdisciplinares para promover a qualidade de vida na cidade a partir da recuperação de um bem precioso, que são os recursos ambientais e paisagísticos do Rio Capibaribe. Não existe vida sem água, não existe vegetação sem água, e Recife, sendo uma cidade estuário, sob a influência de rios e mares, precisa se reconciliar com suas águas e sua natureza”, defende a diretora do INCITI, Circe Monteiro. De acordo com a urbanista, este é o ponto de partida para que o Recife se torne uma Cidade-Parque, conceito que procura implantar espaços públicos de qualidade que promovam o encontro entre as pessoas e o meio ambiente, reafirmando culturas locais e gerando novas oportunidades de transformações sociais e econômicas.

O Parque se expande para além da borda do rio, com infiltrações na Rua das Pernambucanas e na Rua Dom Sebastião Leme, com a diminuição de estacionamentos para carros, aumento de calçadas com área verde e criação de bicicletários. O projeto propõe uma experiência aprazível de mobilidade para pedestres e ciclistas em uma margem contínua à beira rio, inclusive com passagens seguras por baixo das pontes da Capunga e da Torre. Em uma segunda etapa, é prevista a construção de uma passarela sobre o rio, para pedestres e ciclistas, que irá promover a articulação entre as margens, tornando menor a distância entre os bairros das Graças e da Madalena.

A previsão é de que a obra seja iniciada no primeiro semestre de 2017 e tenha duração de 18 meses. O processo licitatório é realizado pela URB – Empresa de Urbanização do Recife com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Pavimentação disponibilizados pelo Ministério das Cidades.

MOBILIDADE – O projeto, de forma inovadora propõe soluções de vias compartilhadas entre ciclistas e veículos motorizados, com 4,5 metros de largura. Os pedestres terão um passeio prioritário. O trânsito local de automóveis será com velocidade reduzida – 30km – no sentido único, da Ponte da Capunga à Ponte da Torre. A prioridade será dos ciclistas e pedestres, que terão a possibilidade de circular neste trecho da margem do rio de forma contínua. Já os veículos motorizados circularão pela via a partir da Ponte da Capunga até a Rua Dom Sebastião Leme, em seguida irão dobrar à esquerda na Rua das Graças. Os veículos locais podem voltar para a Via Parque entrando na Rua Manoel Almeida e seguir pela margem do rio para acessar a Rua Amélia, na saída da Ponte da Torre.

SUSTENTABILIDADE – A proposta se mostra alinhada também com os princípios de sustentabilidade estabelecidos pela Conferência do Clima – COP21, realizada em Paris, em dezembro de 2015, e na qual o Parque Capibaribe foi apresentado no Pavilhão das Cidades, incluindo uma relevante contribuição para a redução do gás carbônico, através do plantio de árvores, aumento do solo permeável e do estímulo ao transporte não-motorizado.

O Parque Capibaribe nas Graças traz soluções sustentáveis para minimizar a impermeabilização do solo e possíveis alagamentos, propondo uma pavimentação permeável, em um trecho da Via Parque, que permite a absorção das águas. Também serão usados “jardins de chuva”, um sistema de biorretenção para o manejo das águas pluviais urbanas, que serão filtradas evitando a poluição do rio.

ENGAJAMENTO – O Parque é resultado do diálogo entre o poder público, a universidade e os moradores do bairro, mobilizados por meio da Associação Por Amor às Graças, que promoveu, desde 2014, encontros com crianças, festas e barqueatas no rio, além de um intenso processo de discussão sobre o que desejam para a cidade e para o bairro. O projeto foi desenvolvido entre setembro de 2015 a dezembro de 2016, por uma equipe multidisciplinar do INCITI/UFPE formada por 28 profissionais e estudantes das áreas de arquitetura, urbanismo, paisagismo, biologia, botânica, engenharia civil, instalações, pavimentação e drenagem.

PAISAGEM – O projeto do Parque Capibaribe no bairro das Graças traz diferentes tipos de abordagens paisagísticas, de acordo com a situação encontrada na margem do rio. Uma delas é a renaturalização, com ampliação da superfície de vegetação nativa, considerando a condição de refúgio da fauna, principalmente das capivaras. Em áreas com margens mais estreitas, serão criadas plataformas de pedestres e ciclistas sobre o rio, buscando garantir a continuidade da mobilidade e preservando a vegetação existente de mata ciliar e de mangue. “As passarelas ‘abrem janelas’ para contemplação da paisagem do rio e observação da fauna local, propiciando um passeio lúdico sobre às águas”, explica o arquiteto paisagista Luiz Vieira, um dos coordenadores do Parque Capibaribe.

IMPACTO SOCIAL E ECONÔMICO – Os novos passeios incentivam a relação direta entre espaços públicos e privados, possibilitando que as edificações da vizinhança abram acessos para a via parque nas margens do rio e ativem o uso diversificado no térreo. Um efeito esperado com as transformações nas margens do rio é o incremento das atividades econômicas no bairro, com a abertura de empreendimentos como restaurantes, cafés, sorveterias e lojas. Atualmente, muitos prédios têm apenas muros cegos e entradas de serviços voltadas para o Capibaribe.