NOTA‌ ‌SOBRE‌ ‌O‌ ‌PROJETO‌ ‌PARQUE‌ ‌CAPIBARIBE‌ ‌–‌ ‌PARQUE‌ ‌DAS‌ ‌GRAÇAS‌ ‌

A equipe da INCITI/UFPE, parceira da Prefeitura do Recife na elaboração do Projeto Parque Capibaribe, vem através desta nota reiterar informações sobre processos e fundamentos que compõem esse projeto. Achou-se necessário esclarecer alguns pontos por conta de informações publicadas recentemente na mídia sobre o início das obras do Parque das Graças, sobretudo relacionadas à supressão do mangue em parte da margem do Rio Capibaribe, ação necessária para a implementação do projeto.

Gostaríamos primeiramente de lembrar que o projeto do Parque Capibaribe – Parque das Graças foi inovador na sua concepção, pois partiu da união de projetistas e pesquisadores com os moradores do bairro das Graças (Recife) na discussão de como melhorar a qualidade de vida daquela localidade e da cidade como um todo. Essa aproximação foi iniciada no ano de 2015, quando moradores do bairro estavam combatendo a proposta de construção de uma via expressa de quatro faixas sobre o Capibaribe, que culminaria em um violento impacto no meio ambiente e nas dinâmicas da vizinhança.

Diante desse impasse, os próprios moradores, através da Associação Por Amor às Graças, solicitaram à Prefeitura do Recife que o projeto do Parque Capibaribe também contemplasse aquela área e que pudesse, enfim, responder aos anseios da população. A partir dali um bonito processo de participação social foi desenvolvido, com a realização de eventos na beira do rio, inúmeras reuniões e uma série de apresentações e devolutivas até chegarmos a um consenso relacionado ao projeto. Contudo, neste momento de início das obras, é fundamental estarmos cientes da complexidade do Parque das Graças. 

A faixa de terreno disponível no território é bastante restrita e as soluções para este projeto exigiram muitos estudos, desenhos de alternativas urbanísticas, soluções de engenharia, detalhes para um sistema sustentável sensível às águas, assim como uma seleção criteriosa de vegetação nativa da Mata Atlântica a ser reintroduzida no local. O Parque das Graças não é somente uma área de lazer e saúde, e sim um projeto que integra também um sistema de infraestrutura de mobilidade ativa da cidade (ciclistas e pedestres), além de promover uma circulação controlada de acesso de veículos no bairro. 

Apesar de todo esse cuidado e da perspectiva de recuperação ambiental a médio e longo prazo que se pretende para as margens do Capibaribe, a integração entre as demandas urbanas e ambientais exige que em alguns momentos sejam feitas escolhas, ainda que difíceis para um grupo comprometido com as premissas do projeto. Coube então à equipe buscar soluções projetuais que minimizassem ao máximo as supressões arbóreas e do manguezal e seus impactos. Em inúmeras visitas técnicas feitas ao local, identificou-se ainda que muitos dos indivíduos arbóreos da área eram de espécies exóticas, o que poderia acarretar em prejuízo do corredor ecológico do rio.

Ainda nessas visitas, comumente eram avistados animais buscando alimento em ruas próximas ao rio, o que demonstrava a baixa oferta das margens do rio. A condição ambiental encontrada reforçou a necessidade de pesquisas mais aprofundadas, que possibilitaram a proposição de plantio de espécies nativas e com registro de ocorrência nas Unidades de Conservação de Natureza de Recife, e alertaram ainda para a demanda por áreas vegetadas que servissem de refúgio e ofertassem alimento para os animais que ali transitam.

Apesar do reconhecimento dos impactos relacionados  à implantação do projeto, confiamos que a perspectiva de recuperação e regeneração ambiental e da melhoria da qualidade de vida no bairro suplantará estes transtornos momentâneos que acompanham qualquer mudança.

Como de praxe em toda a trajetória da nossa rede de pesquisadores, nos disponibilizamos a sanar quaisquer dúvidas sobre as decisões de projeto de modo que todos possam melhor compreender as soluções e seus respectivos impactos

INOVAÇÃO 

O Parque Capibaribe – projeto que abarca o Parque das Graças, o Jardim do Baobá e futuramente outros espaços da cidade – irá atuar efetivamente na diminuição da temperatura, absorção de carbono e permeabilidade do solo, operando no combate às mudanças climáticas, como alagamentos, altas temperaturas, arboviroses, entre outros desafios. A importância de parques dessa natureza para a manutenção da saúde física e psíquica nunca foi tão sentida, sobretudo em um contexto ameaçado por uma pandemia global. Logo, é urgente que os grandes centros urbanos voltem a dialogar de forma saudável e respeitosa com a natureza e o Parque Capibaribe propõe na prática esse movimento de reconexão.

Acreditamos que a inovação está aliada ao saber multidisciplinar e essa prática se faz necessária em diversas fases do projeto – concepção, execução e gestão. 

Por fim, reforçamos também a importância do Parque Capibaribe continuar contando com a parceria dos moradores e habitantes da cidade na implantação deste projeto que poderá ser exemplo de práticas sustentáveis em todo o mundo. 

Equipe INCITI/UFPE

27 de Abril de 2021