Poliana Maria tem 14 anos e mora no Vasco da Gama, Zona Norte do Recife. Apesar da pouca idade, ela sabe bem os riscos que a presença do Aedes Aegypti podem trazer para a sua comunidade. A estudante já teve dengue mais de uma vez e conhece várias pessoas do seu bairro que também foram infectadas pelo mosquito, incluindo a sua avó. Poliana cursa o nono ano da Escola Padre João Barbosa, que fica no Morro da Conceição, a primeira unidade da rede pública de ensino a receber a oficina do projeto piloto Aetrapp, projeto desenvolvido pela WWF Brasil. A ferramenta promove o monitoramento cidadão de focos do mosquito Aedes Aegypti, principal transmissor de doenças como dengue, chikungunya e zika, e que está sendo testada no Recife, em parceria com o INCITI e a Prefeitura do Recife.
Assim como Poliana, outros adolescentes também conheceram o aplicativo e aprenderam sobre o seu funcionamento por meio de oficinas que fazem parte da fase experimental do projeto, que visa testar a viabilidade do sistema e iniciar sua inserção nas comunidades da cidade. Durante uma semana, uma equipe de facilitadores visitou instituições articuladas pelo INCITI para ministrar a oficina, apresentar o Aetrapp e engajar os estudantes no combate ao mosquito, que causa epidemia de doenças nocivas para toda a população e gera um grande impacto na saúde pública. De acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal O Globo, entre 2011 e 2015, foram gastos R$ 2,2 bilhões com casos de dengue. Só em 2015, quando o Brasil bateu recorde no número de casos, o tratamento de pacientes consumiu pelo menos R$ 804,8 milhões. Apesar da diminuição de registros, a doença ainda representa um grande risco para a população e altas cifras para os cofres públicos e privados, por isso, a importância de engajar todos no combate do principal transmissor.
Nessa fase do projeto piloto do aplicativo Aetrapp, três bairros do Recife estão envolvidos: Graças, Morro da Conceição e Bairro do Recife. A visita às escolas foram priorizadas, inicialmente, para envolver os mais jovens no tema e, consequentemente, chegar até a casa dos pais, amigos e vizinhos. A primeira parada da oficina foi na turma do Paulo Felipe, de 14 anos, que estuda no Colégio Fazer Crescer, nas Graças. Ele e seus companheiros e companheiras, se divertiram muito aprendendo a montar uma armadilha para atrair mosquitos, entendendo o aplicativo e a forma mais eficaz de monitoramento. “Eu gostei muito porque a gente aprende de uma maneira fácil e ainda pode ensinar para outras pessoas que precisam”, disse Paulo, que se comprometeu em acompanhar todo o processo, em um total de seis semanas, e levar o resultado para a escola.
A oficina foi dividida em três módulos, que abordam a construção da armadilha para atrair o Aedes, apresentação do aplicativo e o fornecimento de informações importantes para garantir a eficácia do monitoramento dos ovos do mosquito. A confecção da armadilha é simples e utilizou garrafas pets adquiridas na Cooperativa de Catadores Profissionais do Recife (PRORECIFE). Toda a facilitação foi realizada pelo coordenador de Ciência e Tecnologia do projeto, Oda Scatolini, e pelos colaboradores Caio Scheidegger e Violeta Assumpção que apresentaram slides explicativos, demonstraram situações, detalharam o aplicativo e ajudaram na construção das armadilhas.
“O saldo tem sido muito positivo, depois de dois anos e meio de muito trabalho e muita gente envolvida no desenvolvimento. Produto maduro a ponto de ser testado e os estudantes foram super receptivos. É um procedimento inédito. Nunca houve nenhuma ferramenta que possibilitasse o engajamento da comunidade no monitoramento do Aedes como o Aetrapp faz”, explica Oda.
Coordenadora de Projetos de Sustentabilidade do Colégio Fazer Crescer, Denise Paranhas, acredita no potencial da iniciativa, que vai ajudar os alunos do nono ano a desenvolver o trabalho de conclusão de curso cujo tema é “Tecnologia e Desenvolvimento Humano”. “Os estudantes vão monitorar a armadilha por seis semanas com o nosso acompanhamento também. No segundo semestre, os dados colhidos serão analisados para servir de base na construção do projeto deles”, explica Paranhas, que está à frente de ações de impacto social como a estação de coleta de lixo que pode ser utilizada pela comunidade local. A escola também realiza compostagem, possui uma horta orgânica e arrecada lixo eletrônico para encaminhar para o Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC). Graças a essas iniciativas, a escola recebeu o Prêmio Vasconcelos Sobrinho, da Agência Estadual de Meio Ambiente.
Além das escolas Fazer Crescer e Padre João Barbalho, as oficinas do Aetrapp passaram pelo Colégio Vera Cruz, Escola de Referência João Vidal, Centro de Apoio Divino Amor, ONG Casarão das Artes e Centro de Reabilitação e Valorização da Criança. Agentes de saúde também passaram pelo treinamento com o Aetrapp. A próxima etapa, após o piloto, envolve a avaliação dos resultados com os parceiros, realização de ajustes, se necessário, e a definição de estratégias de disseminação.
Convocatória
Os moradores das Graças, Morro da Conceição, Bairro do Recife e arredores podem ajudar nessa fase de testes do Aetrapp. O WWF–Brasil, responsável pelo projeto, convoca outros recifenses dos bairros citados a contribuir com o controle do Aedes. Quem tiver interesse em participar da fase experimental do projeto é só entrar em contato por meio do e-mail aetrapp.comunicacao@gmail.com até quarta-feira (9).