Reflexões de um Criador no Quênia

Wachira Ndaiga, Hardware Design Engineer and Research, iHub, Nairobi

O movimento maker é uma tendência na qual indivíduos ou grupos de indivíduos criam e comercializam produtos que são recriados e montados usando eletrônicos descartados, não utilizados ou quebrados; plástico, silicone e praticamente qualquer matéria-prima e/ou produto proveniente de um dispositivo de informática.

Esta definição acima do movimento ou da cultura maker é a definição como prevista pelo techopedia. Eu li, recarreguei a página e li novamente, tentando descobrir o que as palavras realmente diziam. Mesmo com a minha formação em engenharia, sempre achei o movimento maker um conceito bastante vago: uma espécie de romantismo do século XVIII que encontra a ideologia tecnologista do século XXI. Ao seguir a definição do technopedia, é fácil imaginar o que o movimento maker possa parecer, especialmente se você vive em um país como o Quênia, onde o setor informal é responsável por uma grande parte da atividade econômica do país. Se você realmente vive no Quênia, então é suficientemente fácil desenhar uma semelhança entre o movimento criador e o Jua Kali. Sem dúvida, uma diferença no sentimento (e nas matérias-primas) existe; a cultura maker é normalmente considerada à luz quase utópica da “auto-realização”, com qualquer um capaz de fazer qualquer coisa, enquanto Jua Kali é considerado extenuante, cansativo e desanimador. Mas isso é tudo um aparte, talvez uma prévia para outro post de blog; vamos voltar para o Movimento Maker.

makers?

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Você provavelmente vai encontrar termos como melhora na autonomia, produção democratizada e resiliência da comunidade usado na mesma frase que maker. Depois de ler artigos após artigos sobre a cultura maker, você provavelmente entenderia que o maker é o super-herói mais esperado dos nossos tempos, assim como Galileu e sua laia polímata uma vez já o foram. Em seguida, os indícios dessa magia lhe atinge, afinal nunca o poder de fazer foi tão célebre: histórias de trilhões de dólares de empresas nascidas em abafados dormitórios e garagens pré-moldadas passam a agradar-lhe com a ideia de que talvez seja isso mesmo, talvez a cultura maker possa fabricar os Homebrew Club Members da nossa geração, os Jobs, Wozniaks, Dells e Zuckerbergs de amanhã que irão mudar o mundo com alguma feitiçaria tecnológica. Mas vamos fazer uma pausa por um segundo e falar sobre por que essa percepção faz mais mal do que bem e onde um monte de mensagens do movimento maker se perde na tradução.

O primeiro equívoco quando se trata de compreender o movimento maker ocorre quando as pessoas o confundem como algo novo, quando realmente não é. Em certo sentido, a cultura maker é uma sub-cultura real que se desenvolveu a partir da mentalidade do Faça Você Mesmo (do it yourself, ou DIY). Com isto, e voltando um passo mais atrás, DIY é uma espécie de grande mãe não apenas da cultura maker, mas de um monte de outras sub-culturas que geraram, a partir do seu ethos de fazer por si mesmo, o Homebrew Club Members, também do final dos anos 1970. E por que precisamos saber que a cultura maker não é nada de novo? Para percebermos que ela não parece ser a ponte aérea da agência revolucionária e tecnológica que vai democratizar o poder das mercadorias para todos. É apenas um novo nome para algo que já existia; o contexto pode ter mudado, mas o agente de mudança não: é a melhoria do acesso econômico que desenvolve a confiança do consumidor.

De volta às falhas de percepção do complexo herói-adoração. Em outubro de 2015, o bolsista pesquisador do iHubber Eugene Mutai escreveu “A era das ferramentas, não dos superheróis” (The Age of Tools, not Superheroes), que você pode encontrar aqui. O título despertou meu interesse, e sinto que é algo que não obtém a atenção suficiente das startups de peças de inovação-y que existem por aí. O princípio básico de seu argumento é que empreendedores e inovadores desenvolveram o foco em um zelo excessivo em ser o homem da máquina, por assim dizer, ao contrário do homem na máquina. Por ser da máquina, uma qualidade pontual de permanecer fora lhe é conferida; um homem na máquina é conjuntivo por natureza. Sob esta perspectiva, ser um empreendedor tornou-se sinônimo de ser um pioneiro auto-suficiente, um super-herói em alguns aspectos. Com ele vem uma pressão indevida para ser uma espécie de guru interdisciplinar na compreensão de que isso é o que é preciso, tornando-se uma ilha em seu próprio país. Os fatos falam de algo completamente diferente, onde, como um empresário, você precisa desenvolver uma valorização de abordagens interdisciplinares, que clama por uma equipe ao invés de um guru. Saliento isto porque o movimento maker tem sido considerado por muito tempo um ponto de partida para empresários inovadores. Uma doença por possuir toda a confiança criativa provocada através da acessibilidade às ferramentas para construir coisas surpreendentes é o que, embora concebido para ser algo holístico, pode facilmente criar uma bolha em torno de um super-herói que distorce um outrora método harmonioso para criar uma loucura disruptiva.

Publicado Originalmente no iHubResearch

Tradução: Ricardo Ruiz