Moradia e Identidade é pauta no UTC Recife

O evento acontece até o dia 27, e conta com programações que envolve a realização de painéis, relatos de experiência e atrações musicais

Por Paulo Ricardo Mendes

O tema Moradia e Identidade conduziu as conversas do painel que ocorreu no Paço do Frevo nesta quinta-feira (26), relacionando as questões ligadas ao ato de morar e de produzir moradias, com a valorização de identidades das pessoas e dos lugares. As falas inspiradoras ficaram por conta da yalorixá Mãe Lúcia de Oyá, da militante de movimentos sociais e coordenadora do Projeto Fortalecimento da Autogestão, Evaniza Rodrigues, além do arquiteto e urbanista do Centro de Cultura Luiz Freire, André Araripe. O mediador da mesa foi o professor, Luís de La Mora.

Mãe Lúcia de Oyá contou sobre a sua vivência no terreiro e questionou a falta de espaço nas cidades para a cultura dos quilombolas. “Nós não saímos dos nossos espaços para perder a nossa identidade em outro lugar. Ou nos dá o melhor ou não queremos esmolas”, afirmou. Durante seu discurso, a yalorixá argumentou também sobre a distribuição de terras dadas pelo poder público e sobre a luta pelos direitos dos negros e da cultura africana. “Nós nos chamamos de resistência. A cada mulher negra, de quilombos, de terreiros, que pesca no rio, que lavra a terra, em cada mulher dessa existe uma força descomunal e que explode do nada, que é a força do ventre. Se nós temos um órgão que é capaz de reproduzir a vida, imagina do que a gente é capaz”, concluiu.

Mãe Lúcia: "O nosso povo ainda não descobriu que nós somos o poder". Foto: Humberto Reis

Mãe Lúcia: “O nosso povo ainda não descobriu que nós somos o poder”. Foto: Humberto Reis

Já a militante de movimentos sociais, Evaniza Rodrigues, falou sobre as ações de ocupação. Através do relato de uma experiência feita no centro de São Paulo, que durou 19 dias, ela sugeriu que se olhasse a cidade para além da utilização dos recursos públicos. Durante o debate ela exemplificou essas questões, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. “Três milhões de famílias não foram as principais beneficiadas com esse programa, mas sim, os proprietários de terras e construtores”, afirmou, e completou, “Construir moradia para as pessoas é muitos mais do que construir casas”. O mecanismo de tomada de decisões coletivas foi outro ponto discutido por Evaniza. Para ela, deve-se propagar, defender e construir juntos a cidade.

Em seguida, o arquiteto e urbanista André Araripe, morador de Conceição das Crioulas, trouxe ao debate a relação de territorialidade com base nas comunidades Quilombolas. “Estamos tratando moradia não apenas como edificação, abrigo, mas como um lugar para viver, no sentido de habitat”, declarou. De acordo com Araripe, a comunidade quilombola só permaneceu em seus territórios devido a um intenso processo de mobilização e articulação social, pelo direito à moradia. “É preciso investir na produção social do habitat como prática eficaz na valorização de identidades”, concluiu.

Ao fim do debate, o mediador Luís de La Mora destacou a importância de mesas redondas como esta, realizada no UTC Recife. Ele convidou o público para, além da discussão, pôr em prática melhorias na cidade. “Os estudiosos passaram muito tempo compreendendo o mundo, agora está na hora de mudar”, frisou.