Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima
Há exatos 15 dias a Praça do Derby – QG recifense de encontros e movimentos diversos em resistência ao golpe – recebia o debate Mídia, Informação e Democracia, reunindo representantes e iniciativas da mídia democrática, independente, agentes da cultura e da comunicação, pesquisadores e tantos outros interessados no tema. O evento apresentou alternativas para o direito à informação, como o projeto de Lei da Mídia Democrática, que busca “garantir o direito à comunicação e a liberdade de expressão de todos os cidadãos e cidadãs, de forma que as diferentes ideias, opiniões e pontos de vista, e os diferentes grupos sociais, culturais, étnico-raciais e políticos possam se manifestar em igualdade de condições no espaço público midiático”.
O tema do debate não havia sido escolhido à toa, uma vez que a postura dos principais veículos de comunicação, aparelhados aos poderes executivo e legislativo, promoveram o julgamento prévio pela opinião pública da presidente eleita – agora afastada – Dilma Rousseff. Em um claro conflito de interesses na atuação dessas instituições, somente coube dar início ao processo de impeachment contra a mesma, ainda que a maioria dos parlamentares parecessem não ter observado o relatório sobre os indícios de crime de responsabilidade fiscal que os levou à tribuna.
Hoje vejo amigos desconfiados, cansados, abatidos, estupefatos. Quem acompanha minimamente o noticiário está assistindo com grande insegurança e tristeza ao que demonstra ser a desconstrução de anos de conquistas sociais e de políticas públicas. E em uma velocidade alucinante. Mas não é por que a maré tá puxando em outra direção que a gente deve se desesperar, gastar toda a energia e perder o fôlego. Continue a nadar, continue a nadar. Firme e estável. É preciso relembrar todo o tempo e toda a luta que foram necessários pra obter tantos avanços. Naquela época foi difícil? Agora vai ser ainda mais. Mas não há tempo pra baixar a cabeça e se ressentir. Não vai ter luto, vai ter luta. Então, pra seguir nessa peleja, vale lembrar algumas palavras ditas no Derby, naquele 29 de abril de 2016. Foi uma noite de falas com muita força, vívidas, instigantes.
Ivana Bentes, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e naquele momento secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do – agora extinto – Ministério da Cultura, destacou os movimentos despertados pela nada discreta disputa de poder que acabou por produzir uma conturbação social no Brasil. “Hoje a gente tá vendo uma frente da diversidade emergindo desse momento traumático do recente processo político brasileiro. Esses momentos trazem de volta, pra além da discussão do impeachment, o debate sobre a representação política”, disse.
O jornalista da Marco Zero Conteúdo e professor de Comunicação Social da Universidade Católica de Pernambuco, Lula Pinto, reforçou essa ideia. “A gente precisa, o tempo todo, lembrar a forma muito problemática de se fazer política no Brasil. O exercício da política, na sua essência, é um exercício para desenvolver novas narrativas. Por isso é tão importante promover essas conversas, uma vez que a possibilidade do discurso e da fala foram tradicionalmente suprimidos no Brasil. Nossa política foi colocada como uma coisa distante de nós”, lembrou.
Por fim, a mensagem de Mãe Beth de Oxum, yalorixá do Ilê Axé Oxum Karê e coordenadora do Centro Cultural Coco de Umbigada, que em suas iniciativas de afirmação da cultura negra e das religiões de matriz africana, deu a ideia-xeque: “A gente tem que botar exú (que é o orixá da comunicação) na rua agora”.
PS: Pra quem não conseguiu comparecer ao debate, promovido pelo Grupo de Pesquisa Cidade e Participação | UFPE, em parceria com o INCITI/UFPE, Frente Brasil Popular de Pernambuco, Mestrado em Direitos Humanos – PPGDH, Coletivo de Professorxs da UFPE pela Democracia, Movimento Zoada, Som na Rural, Fopecom e Intervozes, ainda dá pra assistir o que rolou aqui.