Capibaribe: um rio vivo! (Parte 1)

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Leonardo Melo

O rio Capibaribe tem seu nome originário da língua Tupi – “Capivar-y-be” ou “Capibara-ybe”, mas pode ser definido como “rio das capivaras” – numa referência direta ao maior dos roedores – a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris). Apesar de em pleno século XXI ser possível observar exemplos de pressões humanas sobre o ambiente ao longo do Capibaribe, apresento aqui toda uma imponente, diversa e importante riqueza – principalmente de animais -, que vivem no rio e a partir dele.

Antes cabe uma breve apresentação de conceitos ecológicos básicos, presentes nas vastas bibliografias. Define-se por bioma toda unidade biológica caracterizada de acordo com o macroclima, a fitofisionomia (aspecto da vegetação de um lugar), o solo e a altitude específicos. Um bioma pode conter muitos ecossistemas que, juntos, exibam certo nível de homogeneidade, contendo então, as comunidades biológicas nas quais as populações de organismos da fauna e da flora interajam e se integrem ao meio físico.

Quando se fala em biota, se quer referir a tudo aquilo que é vivo em um ecossistema. A expressão é portanto utilizada para expressar o conjunto de todos os organismos vivos de um dado ambiente, seja planta, animal, fungo ou os seres microscópicos, que fazem do ambiente físico o seu habitat. Aqui é importante ressaltar que não apenas a biota dos rios, mas os próprios ecossistemas aquáticos têm a sua integridade e funcionamento dependentes das interações com os sistemas terrestres, estabelecendo um equilíbrio dinâmico que é influenciado por fatores tanto natural, quanto antropogênicos. Por decorrência, a flora e fauna dos ecossistemas aquáticos apresentam inúmeras características relacionadas com o regime hidrológico dos grandes rios e áreas alagadas e de várzeas.

A palavra “biodiversidade” se refere à riqueza, à diversidade e a quantidade de vida existente num determinado ambiente. Este termo, aliás, vem sendo sempre muito relacionado ao Brasil. De extensão continental, o território brasileiro abriga cerca de 20% de toda a biodiversidade do nosso planeta. Importante relevar que o Brasil apresenta ainda a maior taxa de endemismo (espécies que só ocorrem em determinada região), se comparado com outros países também diversos.

A despeito da atribuição nominativa de “país continental” conferida ao Brasil, pode-se ainda tomar emprestado a expressão usada pela taxonomia botânica que define o Brasil como um grande “mosaico” de biomas – sete ao todo, sendo de norte a sul: Floresta Amazônica, Zonas Costeira e Marinha, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Floresta Atlântica e Pampas. Em cada um destes biomas observa-se singularidades espécie-específicas tanto de flora quanto de fauna.

Na contramão de todo o potencial de riqueza desse mosaico biológico, o Brasil apresenta-se, em termos absolutos, como o detentor do maior número de espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção. E o exemplo mais dramático desse paradoxo encontra-se justamente na porção nordeste do bioma Floresta Atlântica, localizada ao norte da desembocadura do Rio São Francisco.

Originalmente esse bioma se estendia por aproximadamente 1.300.000 km2 em 17 estados. Hoje restam menos de 7% da Mata Atlântica, preservados e/ou conservados em fragmentos com até 100 hectares, já que os 93% da área do bioma original foi substituído por vegetação secundária, áreas de cultivo e cidades (FONSECA, 1985; MMA, 2014). A situação mais grave encontra-se na região Nordeste, principalmente no Estado de Pernambuco, devido à intensidade da destruição e ao grau de isolamento dos remanescentes florestais (LIMA, 1998).

Contudo, apesar de toda essa pressão, a Mata Atlântica continua sendo um centro de endemismo e alta biodiversidade e apresenta áreas de grande importância biológica para sua conservação (REID, 1998). Importante enfatizar que o bioma Mata Atlântica exibe fisionomias singulares dentro do território brasileiro, todas com características de biota muito próprias.

No próximo texto da série “Capibaribe: um rio Vivo!” explicaremos o que o rio Capibaribe tem a ver com tudo isso que falamos.[:]