Semana do Meio Ambiente marca encontro de pensadores urbanos em Belo Jardim

Pela cidade de Belo Jardim, situada no Agreste pernambucano, passam os rios Ipojuca e Bitury. Esse último, durante muitos anos abasteceu com suas águas o município e as regiões vizinhas. A abundância desse líquido, precioso e vital, rendeu a Belo Jardim, por um tempo, a alcunha de “terra das águas”. Mas há alguns anos a realidade da cidade já não é essa. Os longos períodos de estiagem, somados à remoção da mata ciliar e à falta de planejamento na urbanização da cidade, resultaram num rio Bitury sujo e enfraquecido, enquanto o Ipojuca sustenta o posto nada célebre de 3º rio mais poluído do Brasil.

Com o objetivo de transformar essa realidade, a Semana do Meio Ambiente de Belo Jardim foi marcada por um encontro que reuniu sociedade civil, representantes de instituições públicas e privadas, na mesa redonda Da crise à oportunidade: soluções para um futuro sustentável das águas. A iniciativa, promovida através de parceria entre o INCITI/UFPE, o Instituto Conceição Moura e o Conselho de Usuários do Rio Bitury (Consu Bitury), aconteceu na última quarta-feira, 7 de junho, no Cine Teatro Cultura de Belo Jardim.

Além de apresentar iniciativas de diferentes organizações e instituições, que estão em andamento em prol da melhoria da qualidade de vida e da condição do meio ambiente de Belo Jardim, o evento se configurou como o primeiro encontro na cidade para apresentar o Campus de Pensadores Urbanos (Urban Thinkers Campus – UTC), que acontecerá na cidade, no mês de setembro, buscando a construção de um plano de ação entre diversos agentes, no combate à crise hídrica.

Saiba mais sobre o Campus de Pensadores Urbanos.

Cerca de 100 pessoas compareceram ao debate, que teve a mesa formada por Brenda Braga, gerente do Instituto Conceição Moura; Djair Falcão, coordenador de Engenharia do INCITI/UFPE; Gilvandro Barbosa, gerente Regional da Compesa; Daniel Falcão, representante do SERTA; Luciano Gomes, vice-presidente do Consu Bitury; e Marconi Feliciano, presidente da Comissão de Gestão Ambiental do IFPE/Campus Belo Jardim.

Desde 1998 o Consu Bitury vem desenvolvendo ações de recomposição da mata ciliar, conservação e proteção da nascente, e de conscientização quanto ao uso e preservação das águas. “Não podemos pensar só sobre a água que está passando (no rio), mas sim sobre o ciclo hídrico. O rio faz uma ligação entre o interior e o litoral. O rio nasce no interior, evapora durante o seu percurso, e volta a nascer. Há um desafio contínuo no seu cuidado”, disse Luciano Gomes, enquanto apresentava as atividades realizadas pelo movimento da sociedade civil.

O representante da Compesa, Gilvandro Barbosa, falou sobre a transposição do São Francisco, que está com as obras da adutora do Agreste atrasadas. Barbosa explicou que a companhia tem buscado recursos para concluir esse trecho da transposição. “A nossa expectativa é de que entre novembro e dezembro as águas do São Francisco cheguem ao Agreste”, declarou.

A Companhia Pernambucana de Saneamento também apresentou o Programa de Saneamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Ipojuca (PSA Ipojuca), que está expandindo os serviços de coleta e de tratamento dos esgotos, principalmente em 12 cidades sedes de municípios que margeiam o rio. De acordo com o gestor, o PSA reflete tanto na melhoria da qualidade das águas dos rios Bitury e Ipojuca, quanto na saúde da população. “O tratamento da água é importante para que a Compesa não faça o descarte inadequado do esgoto e dos efluentes. A água precisa estar apropriada para voltar ao meio ambiente. E o retorno no bem estar da população é muito positivo. A cada um real investido em saneamento, são quatro reais ganhos em saúde.”, pontuou Barbosa.

Belo Jardim sofre com a maior seca do século no NE. Foto: Bruna Roazzi

Quando apresentou o UTC para os presentes, Djair Falcão, coordenador de Engenharia do INCITI/UFPE, trouxe para a roda a provocação sobre a implementação da Nova Agenda Urbana, documento das Nações Unidas que fornece diretrizes para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. “O Campus de Pensadores Urbanos é uma grande troca de conhecimento para construir processos. A gente costuma trabalhar com a perspectiva dos verbos, que remetem à ação, e não aos substantivos, que remetem aos produtos. Que essa rede que começa a se construir hoje possa se desenvolver por um longo período”, convidou Falcão

O biólogo Leonardo Mello, que também faz parte do grupo de pesquisas da Universidade Federal de Pernambuco, ressaltou a oportunidade de se refletir, conjuntamente, sobre todas as práticas já desenvolvidas na cidade. “É o momento para repensar tudo que foi feito e não deu certo, o que merece e deve ser revisto. Estamos discutindo cidades. Em Belo Jardim, como está esse jardim nessa crise hídrica? O recurso água não deve ser relacionado apenas com a disponibilidade pluviométrica. É preciso pensar além do fenômeno natural”, falou.

A mesa redonda teve ainda o IFPE abordando as alternativas técnicas com participação popular, o SERTA falando a respeito das formas de construção de estratégias de baixo custo e permacultura. O balanço da conversa foi feito por Caio Scheidegger, coordenador de Ativação do INCITI: “Sintetizando o evento, estamos em um círculo, não numa mesa. Construímos consenso, e esse contato em rede possibilita a retroalimentação para governança e incidências estratégicas, com diretrizes, metas e participação. É preciso incitar a ação, através do processo”.

O encerramento da mesa ficou por conta da coordenadora do Instituto Conceição Moura, Brenda Braga, que instigou os presentes ao engajamento e à articulação no processo do Campus de Pensadores Urbanos. “Não podemos perder a amarração, perder as oportunidades. A sociedade de Belo Jardim vem buscando construir. Existem pessoas resistentes e comprometidas, que seguram a bandeira há alguns anos e precisam de um engajamento maior da sociedade. É preciso criar outras células, descentralizar para criar outros atores. Vamos ampliar a ação para o processo do UTC. Se damos andamento a essas ações, chegamos em setembro muito fortes, com a cidade ocupada, com pessoas da zona rural, da cidade, de vários outros recantos. Cria-se um ambiente favorável para, junto do executivo, construir um Plano Municipal de Saneamento”, assinalou Brenda.