“Ideal será não precisar usar a palavra acessibilidade”

por Maíra Brandão

Historicamente, as bandeiras em prol da cidadania, da isonomia e da inclusão na sociedade precisam ser levantadas muitas vezes. E serão defendidas tantas vezes quantas forem necessárias a fim de que alcancem seus respectivos objetivos. Uma vez alcançados, deverão ser tão introjetados no cotidiano a ponto que já não seja necessário chamar atenção para estes quesitos. Por isso, no encontro Parque Inclusivo, realizado nesta quarta-feira (8), no Cais do Sertão, pelo projeto Parque Capibaribe, uma das falas de destaque foram da arquiteta e urbanista Tâmara Ribeiro, quando destacou que “o ideal será quando não mais precisarmos usar a palavra acessibilidade”.

Mas como ainda estamos no processo de busca desse ideal, e justamente por isto, o Parque Capibaribe – projeto desenvolvido pelo INCITI, grupo de pesquisa e Inovação para a Cidades da Universidade Federal de Pernambuco em convênio com a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade – promoveu um encontro aberto ao público para tratar sobre a acessibilidade da iniciativa, que irá impactar 42 bairros do Recife por meio da qualificação de acesso e fruição da cidade, a partir das bordas do Rio Capibaribe.

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O evento, que contou com tradução em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e audiodescrição da COM Acessibilidade Comunicacional, teve a mesa formada pelo diretor do INCITI, Luiz Vieira, pelo consultor de acessibilidade da Secretaria de Turismo do Recife e deficiente visual, Manuel Aguiar, a diretora do Instituto de Gestão (ITGN), Fátima Brainer, e os gestores do Cais do Sertão, Gilberto Freire Filho e Maria Rosa.

Brainer foi uma das primeiras a falar e destacou a necessidade de se observar no cotidiano a coerência entre discurso politicamente correto e prática. “O que incomoda é que ninguém se vê no lugar do outro. É preciso olhar para as diferenças para buscar a inclusão. E os espaços de cultura e lazer são lugares onde deve ser possível fazer a inclusão social. E inclusão não é tolerância. Inclusão é acolher”, falou a gestora.

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Luiz Vieira apresentou o projeto do Parque Capibaribe, por meio do qual procura-se criar um fluxo entre instituições culturais e de ensino, pontos históricos, culturais e naturais da cidade, tudo isso permeado por outros acessos ao Rio Capibaribe, de modo a favorecer um novo olhar das pessoas para com o curso fluvial. “Estamos prevendo pisos, mapas e maquetes táteis, para a circulação de pessoas com deficiência, rampas suaves para facilitar o trânsito de idosos e portadores de deficiências motoras, jardins sensoriais, equipamentos para ciranças com deficiência”, explicou Luiz.

Tâmara Ribeiro, que integra a equipe responsável por pensar a acessibilidade do Parque Capibaribe, complementou a fala do diretor do INCITI. “Temos usado o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a Norma Brasileira de Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Queremos evitar erros que temos visto na cidade, desenhando um parque intuitivo e acessível para diversas pessoas”, pontuou.

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Na plateia, pessoas com deficiência visual, auditiva, motora e intelectual sugeriram algumas modificações no projeto, visando garantir o melhor aproveitamento do Parque, tais como pensar rotas acessíveis desde a parada de ônibus até a beira do rio, mesas adequadas para acoplar cadeiras de rodas e cuidado com a aplicação e dimensão dos pisos táteis. O público cobrou ainda mais iniciativas como esta, que envolva as pessoas afetadas por condições limitantes e que poderão realmente representar suas necessidades.

Ao final, Luiz Vieira convidou os presentes a colaborarem na melhoria do projeto e também a mobilizarem outros interessados no tema para os próximos debates. O encerramento ficou por conta de Manuel Aguiar, que também incentivou a realização de outros encontros: “Só com a convivência é que aprenderemos a lidar com a pluralidade que somos em sociedade”.

Para complementar a discussão, leia o texto de Tâmara Ribeiro: Parque Capibaribe, um lugar para incluir