Se o caso é caminhar

Por Nathália Machado

Sábado, dia 30 de setembro, último dia do mês, saí de bicicleta. Era minha primeira viagem sozinha e um medo colado em mim insistia em plantar várias situações trágicas na minha imaginação realista fantástica. “E se eu cair?”, “e se baterem em mim?”, “e se levarem minha bike?”.

Bom, como diz o poeta: – Segura na mão de Deus e vai. E foi assim, com o desejo maior que o medo, que fui ao encontro de mais um monte de malucos no Parque da Jaqueira. A vontade entre nós era de provocar, fazer refletir, chamar pra tribo dos caminhantes e ciclistas aquela pessoa que não considera outras maneiras de se locomover que não seja o carro.

A gente queria falar com aquele que tem os espaços abertos da cidade como um lazer, uma coisa de fim de semana, aquele que passa a semana nas caixinhas urbanas, apartamento, elevador, carro, escritório, carro, elevador, apartamento; e só considera o olhar o céu, o tocar as árvores, o andar sem pressa e o encontrar pessoas como suspiro nessa rotina de cárcere.

E foi com tinta, pincel, rolinhos, sprays, mãos, pés e bikes que saímos espalhando essa ideia por aí, atiçando a reflexão da necessidade de se mover para todo e qualquer lugar sempre de carro. Nesse percurso tanta gente parou pra nos dizer que estava lindo, que concordavam, que “é isso mesmo!” e algumas até pegaram no pincel pra nos acompanhar nessa intenção.

Essas pessoas talvez sejam aquelas que têm vontade de ir caminhando ou de bicicleta para algum destino na sua rotina, mas que por medo ou insegurança não incluam esse hábito na sua vida. Queria dizer a essas pessoas que não tenham medo. Eu também tive medo nesse último dia do mês e só me arrependo dos minutos em que fiquei parada na porta pensando “será que eu devo mesmo ir de bicicleta?”. Queria dizer que caminhar ou pedalar é possível, não é perfeito, mas é possível! E que quanto mais pessoas estiverem usando a rua, mais acolhedora, convidativa e inclusiva será a cidade.

Vamos ocupar os nossos espaços sem temer, partir em busca de uma cidade humana, segura, confiável e acolhedora. A rua é o que a gente faz dela. Com o perdão do trocadilho, um caminho se começa com o primeiro passo, então, experimenta hoje.

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