Prototipagem e inovação para as cidades

Por Caio Scheidegger

Imagina uma maratona de 54 horas de inovação. O desafio foi levado a sério pela Startup Weekend, iniciativa que representa uma rede global de inovação e fomento de lideranças para criar projetos que possam inspirar, educar e capacitar indivíduos, equipes e comunidades. O evento aconteceu no final de semana de 9 a 11 de junho, no FabLab Recife, na unidade do ABA da Av. Rosa e Silva.

Foi um evento de imersão, com diversos pensadores urbanos. A ideia era desenvolver soluções para cidades inteligentes e sustentáveis. De maneira geral, a atividade aconteceu através de equipes que pensaram em desafios solucionáveis através de inovação e de estrutura de startups e iniciativas incubadas. Além das equipes, participaram times de mentores, jurados, mídia, palestrantes e investidores. Como mentores, estávamos Sabrina Machry e eu, os dois participando da experiência como INCITI/UFPE.

Maratona desenvolveu soluções para a cidade. Foto: Caio Scheidegger.

Nessa mesma pegada, o INCITI este ano está promovendo importantes eventos de inovação para as cidades, são os Campus de Pensadores Urbanos (Urban Thinkers Campus – UTC), que acontecem em três cidades de Pernambuco. A iniciativa, faz parte da Agenda 20130 da ONU Habitat e será promovida em Belo Jardim, de 9 a 11 de setembro, em Petrolina, de 25 a 27 de outubro, e no Recife, de 22 a 24 de novembro. O tema central é Águas Urbanas para Resiliência Social e Ambiental, mas cada cidade tem um subtema específico que lida com a especificidade regional da questão da água.

O UTC é composto de espaços de discussão, momentos de redação de propostas, espaços de experimentação, prototipagem e hackatons com dados abertos, assim como sessões plenárias para apresentação das soluções desenvolvidas ao longo dos eventos. Espera-se com esse tipo de ação, o engajamento de pensadores urbanos para direcionar olhares e soluções, de forma mais concreta, na implementação de um plano de ação proativo, para o enfrentamento da problemática das cidades, dentro da Nova Agenda Urbana da ONU-Habitat. A primeira edição do UTC ocorreu em 2015, na ocasião, o INCITI foi o único a sediar o evento no país.

Saiba mais sobre o Campus de Pensadores Urbanos.

Voltando pro Startup Weekend, aproveitei o encontro para entrevistar algumas pessoas e coletar suas impressões sobre o encontro:

Mayara Pimentel – Mentora analista de empoderamento econômico, da Plan International.

“A equipe conseguiu absorver os inputs de vários mentores e de outros participantes, e realmente superou esses desafios. O modelo começa com um problema, depois tem uma solução. No início era algo tão desesperador, e depois chegou num produto final que empodera, que gera mais escolhas, que coloca a mão na massa. Como mentora já é meu quinto Startup Weekend, organizei outros, e para mim ainda estamos só no começo. Tanto é que tenho um projeto de voluntariado e empreendedorismo em inovação social. Quero que as pessoas sintam o mesmo gosto que eu senti e tomem essas propostas, e não seja apenas o negócio por negócio.”

“O que fluiu muito bem foi o entendimento de responsabilidade pelos negócios que eles estavam propondo. Os mentores tiveram esse cuidado, de colocar em pauta a responsabilidade do propósito de smart city humana. Foi uma das revelações que eu vi na jornada, de buscar os objetivos do desenvolvimento sustentável e entender, de fato, o que é smart city.”

Mayara Pimentel. Foto: Natália Monteiro

Danielle Leite, estudante de Engenharia Ambiental da Paraíba, participante:

“Uma cidade inteligente é uma cidade bem funcional que nos dá respostas rápidas. Por exemplo, através de um dado, um sistema, pode se resolver uma questão complexa de forma mais fácil. Uma dificuldade que tivemos no processo do Startup Weekend para o nosso projeto, foi de obter dados rápidos, ou em tempo real.”

“Estar no meio de tantos profissionais e estudantes, uma start up de cidades inteligentes, traz um arcabouço, uma base, junto com as pessoas que querem desenvolver esses projetos. Fazer parte desta mudança, esse start nessa experiência, me deixa bem mais segura, para tentar conectar a ideia, a teoria e a funcionalidade.”

Danielle Leite. Foto: Natália Monteiro

Atalia Farias, estudante de Engenharia Ambiental em Pombal, Paraíba

“Recife ainda não é uma cidade inteligente. Tem toda a questão da acessibilidade humana. Na questão da mobilidade urbana, a cidade inteligente ainda poderia ser bastante melhorada. Precisamos de infraestrutura, saneamento básico. Ainda sofremos com inundações, esgoto… As cidades inteligentes não são baseadas apenas em tecnologia. Essas soluções têm que trazer melhorias para a qualidade de vida das pessoas.

“Na minha visão, a eficiência energética é o maior desafio para os próximos anos. A gente está vivendo uma crise hídrica, precisamos focar nas energias alternativas. Temos que lidar com a poluição atmosférica… Todos os setores da indústria precisam se tornar mais sustentáveis para trazer qualidade de vida para as pessoas. “

Rodrigo Paiva, Teslabit, Mentor

“Esses eventos de Startup Weekend me encantam pela maneira de tentar incentivar mais pessoas de empreender de alguma forma, seja o empreendedorismo social, seja o empreendedorismo tecnológico, temos que explorar de alguma forma e ganhar em amplitude. É interessante ter esse contato com essas pessoas que querem empreender e saírem daqui querendo constituir alguma empresa.”

“Poderia haver um maior alinhamento entre os mentores , para observar com a empatia e com o humor dos participantes. Os grupos têm que aprender a reconhecer esse papel de aprendizado em empatia, porque nesse processo não há verdade absoluta.”

Rodrigo Paiva, Mentor. Foto: Natália Monteiro

Jade Jofilsan, integrante do Nossas – Laboratório de Ativismo, participante

“Minha ideia de cidade inteligente é uma cidade que traz materiais e uma pegada mais auto sustentável, energias renováveis, com pessoas que se conectam, principalmente na temática da mobilidade. Acho que ainda estamos longe disso em Recife, mas fico feliz que tem uma galera que tá pensando isso, como o Porto Digital. Sei que tem um monte de projetos que tá mudando esses paradigmas.”

“(Para mudar o que temos hoje) Primeiro é pensar essa cidade para as pessoas. Pensar essa questão da mobilidade é um grande desafio. Outra coisa que vejo é que o poder público ainda não sabe usar esses dados de forma inteligente, como essa questão da big data. Essas soluções integradas e inteligentes precisam dessa conectividade. Acho que as pessoas estão indo pouco para a rua, a gente precisa criar essa coisa do pertencimento pela sua cidade e pelo seu bairro, as cidades são espaços atualmente para se transitar, e não para estar. A gente precisa de uma pegada mais acolhedora. Falta empatia até no design dela.”

Jade Jofilsan. Foto: Natália Monteiro

Raoni Franco, gerente de Marketing da Avante, trabalha há 20 anos com tecnologia de segurança

“No âmbito da segurança acreditamos que podemos evoluir muito. Temos várias câmeras, começamos agora a colocar inteligência nessas câmeras. Começamos a desenvolver softwares para diminuir o trabalho do operador. A nossa ideia, é que os vídeo analistas possam ser levados para o público. Para a visão computacional funcionar, é mais complicado. Compramos a audioalert, há um ano e meio atrás. Se acontecer algum tiro ou batida, ela se move e detecta a origem. Estamos tentando trazer essas tecnologias para a cidade do Recife.”

“Acho que o SW traz novos olhares, para novos problemas e novas soluções, para problemas que já existem, ou que podem surgir. A ideia é ver soluções para poder contribuir, com alguma expertise e penetração de Mercado. Essa ideia de open innovation , traz soluções mais céleres. Daqui a dois meses vamos ter uma hackaton de segurança pública e privada. Esse evento foi um ensaio para a gente. Geralmente falam muito da mobilidade, mas mesmo assim esse evento é um aquecimento para nossos colaboradores e para a comunidade.”