Cidades Inclusivas são discutidas no último dia do UTC

Gustavo Restrepo, Ana Vaneska e Evaniza Rodrigues debateram as cidades inclusivas e sensitivas. Foto: Humberto Reis

Gustavo Restrepo, Ana Vaneska e Evaniza Rodrigues debateram as cidades inclusivas e sensitivas. Foto: Humberto Reis


Por Paulo Ricardo

“Se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas de brilhante, para o meu amor passar.” Mas o que acontece quando a rua não é minha, sua e nossa, como na cantiga popular? Questões como essa conduziram o painel Cidades Sensitivas, Cidades Inclusivas, no UTC Recife na manhã desta sexta feira (27). O debate ocorreu na rua do Bom Jesus, na sede do INCITI/UFPE, no Bairro do Recife, e foi conduzido por Ana Vaneska, militante de moradia e integrante do Conselho Estadual de Cultura da Bahia, Gustavo Restrepo, arquiteto e urbanista responsável pelo plano de desenvolvimento urbano de Medellín (Colômbia), e Evaniza Rodrigues, militante de movimentos sociais e coordenadora do Projeto Fortalecimento da Autogestão. O mediador da mesa foi o professor Pedro Sales.

Ana Vaneska deu início à discussão trazendo três histórias para a roda de diálogo: a experiência da cultura de um território sendo estigmatizado, o mito de oxum e o processo de construção de uma casa. Durante sua fala, a militante tratou a luta pela construção do espaço como um direito de todos. “É preciso compreender a existência de cada um e enxergar o outro como um coletivo, e não olhar apenas para si mesmo”, afirmou. Para Ana Vaneska, a cidade só se torna inclusiva quando abre espaço para discussões envolvendo toda a população. “Muitas vezes pensamos na cidade que queremos, mas há uma diferença enorme entre pensar e fazer. Se a gente não fizer o mínimo de esforço para ir à luta, nossos direitos nunca serão conquistados”, completou.

Já o arquiteto e urbanista, Gustavo Restrepo abordou as mazelas sociais em nível da América Latina. Para ele é preciso, além de olhar para a quantidade, buscar a qualidade nas cidades. Durante sua fala, destacou paradigmas para um espaço urbano sustentável. “Vontade política, educação e atitude pessoal são os caminhos para construir sonhos acordados”, frisou. “Através de práticas inclusivas e políticas públicas de continuidade é possível ocupar ruas, escolas e hospitais”, concluiu.

O terceiro momento do painel, trouxe a militante de movimentos sociais, Evaniza Rodrigues para a roda de diálogo. Ela complementou as questões sobre identificação nas cidades, globalização e cidades inclusivas. “O grande desafio na cidade é conquistar o lugar e transformá-lo”, frisou. Para Evaniza, a cidade sensitiva vem em oposição à “cidade sem alma”, cuja essência foi vendida para o capital. “O que me mantém viva na luta pela cidade inclusiva é saber a capacidade que ainda temos de articular e reinventar. Nesse jogo que estamos perdendo em função do mercado, precisamos reconstruir uma visão comunitária e alternativa, para quem sabe assim, brigar nessa rua de ladrilhos que é nossa por direito”, defendeu.

Ao fim do painel, o mediador da mesa, Pedro Sales destacou a importância dos debates realizados durante todo o Urban Thinkers Recife. “Temos encontros bons e encontros ruins. O veneno é um encontro ruim para o corpo humano mas nos enriquece, nos potencializa, assim como as discussões que tivemos no UTC. Elas serviram como um veneno para as nossas ações, mas enriqueceram e contribuíram para, a partir de então, fazermos acontecer a cidade que precisamos”, concluiu.