Por Ângela Valporto
Após um ciclo intenso de debates, provocações e apresentações de novas perspectivas sobre o rumo das nossas águas, a segunda edição do Campus de Pensadores Urbanos Recife chegou ao seu fim. As pautas relacionadas às esferas ambiental, sócio-cultural, econômica, urbanística e de inovação tecnológica estimularam todos os participantes do Campus a repensarem a relação entre a cidade e as águas. Porém, o encerramento do evento é apenas o início de um novo ciclo de propostas, ações e ideias.
É muito simbólico que uma iniciativa como essa aconteça em Recife, a Veneza Brasileira. Apesar da riqueza natural concentrada nas bacias dos rios Capibaribe e Beberibe, com o passar do tempo, a cidade deu as costas aos rios. A pesca, o transporte pluvial e a tradição das comunidades ribeirinhas são cada vez mais suprimidas e estão dando lugar ao descarte irregular de lixo, esgoto não-tratado e aterramentos que acabam com a diversidade biológica dos mangues. O resultado desastroso é o assassinato das nossas águas, que já deram tanto e agora são tratadas com descaso.
A casa, o bairro, a cidade, o país, o continente e o planeta em que vivemos é um reflexo das nossas próprias ações. Enchentes, períodos prolongados de seca, desequilíbrio da temperatura natural já fazem parte da realidade de todos. Sustentabilidade tem que ser a palavra de ordem. Além de discutidas, as propostas também devem ser colocadas em prática. E sem a pressão popular é bem improvável que novas políticas sejam colocadas em práticas. Mas não é apenas sobre esperar o poder público. Devemos nos engajar, separar o lixo, reciclar, impedir que os nossos resíduos acabem nos rios.
O Campus de Pensadores Urbanos Recife 2017 mostrou com muita clareza as consequências do tratamento irresponsável dos recursos hídricos do planeta. E o evento procurou ir além, buscando articular com os presentes um plano de ações que contribuirá com a implementação da Nova Agenda Urbana (NAU), documento aprovado por mais de 170 países, que traz diretrizes para o desenvolvimento de cidades sustentáveis, permitindo que todos os debates sejam convertidos em ações.