Por Guilherme Menezes
Na última quinta-feira (30), na sede do INCITI/UFPE, aconteceu a mesa Direito à água: políticas, tecnologias e participação, roda de diálogo que deu continuidade à programação do Campus de Pensadores Urbanos (ONU-Habitat), que em 2017, no Recife, trouxe como tema: Águas: Caminhos para a sustentabilidade. O mediador Caio Scheidegger (INCITI/UFPE) recebeu os convidados Ricardo Braga (Presidente da ANE: Águas do Nordeste), Edneida Cavalcanti (Pesquisadora da Fundaj), Ana Dubeux (Coletivo Aimirim) e Nadja Granja (Secretária de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura da Cidade do Recife).
O debate girou em torno da situação urbana e rural em relação à distribuição da água, a escassez, a qualidade deste líquido nas residências e a monopolização do poder deste recurso (que é um direito humano). A comunicação e as formas de engajamento da população foram pontos muito discutidos, como já vem sendo observado durante todo o Campus. Convidados e plateia buscaram indícios sobre como seriam as melhores formas de atrair o público para a temática. As oficinas do evento foram elogiadas pelos convidados pela junção de informação e interação, “A informação, quando se trata da água, é sempre muito técnica. Isso vem desde as instituições de ensino que estimulam este tipo de linguajar como forma de mostrar conhecimento e status. A comunicação tem que ser cada vez ser mais lúdica, às vezes uma música influencia mais do que uma aula científica sobre a natureza e a própria água”, afirma Edneida Cavalcanti.
Sobre a distribuição do recurso, Ricardo Braga surpreendeu os presentes quando disse que 51% da água em Pernambuco é desperdiçada, isso levando em conta os variados vazamentos, os casos de roubo e o 1% restante é do nosso desperdício diário, com os fazeres cotidianos. Braga falou que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o indivíduo urbano viveria saudavelmente ao consumir, em média, 110 litros de água por dia, enquanto no Recife, esse consumo fica em torno de 220 litros. A questão do desperdício também permeou as falas dos outros convidados, como por exemplo Ana Dubeux, que se preocupa principalmente com a agroecologia. Formas de agricultura sustentáveis em relação aos recursos naturais e à saúde do ambiente. No agronegócio, segundo Dubeux, além desta forma de produção mexer com diversos produtos tóxicos que afetam os alimentos, também afeta a água e desperdiça esse recurso tão importante para a vida. A membra do Coletivo Aimirim retomou a importância da agricultura familiar e o consumo consciente da população, não apenas pelo aspecto da saúde, mas também pelo apoio ao pequeno agricultor (que vende seus produtos em feiras, mercados, etc).
Recife tem água
Uma coisa ficou certa: Recife tem água. Os problemas encontrados são de captação, processamento (limpeza) e a distribuição deste recurso. É um problema de estrutura. Ricardo Braga sugeriu duas soluções que para ele são complementares. “Uma solução talvez seja pela prestação de serviço, que pode ser benéfica se acompanhada de um política pública bem definida. A outra é pela descentralização do poder da água. Poderia ser feito um conselho de consumidores que debatesse diretamente com os representantes do governo responsáveis por essa estrutura. O que acontece é que temos consumidores que só querem saber se a água está chegando em casa, mas não possuem nenhum poder sobre ela, incluso o poder do conhecimento”.
Nadja Granja, por sua vez, também deu luz a algumas possíveis soluções que são implementadas em outros países para os problemas de limpeza, distribuição e captação que ocorrem na cidade. Entre alguns projetos estiveram o Jardins de Chuva, o Canteiro Pluvial, o Telhado Verde, entre outros. Granja falou que não é certo que iriam funcionar, já que toda cidade é única, mas é importante pesquisarmos e aprendermos com práticas realizadas pelo mundo afora. Ainda foi debatido que a população pobre é a mais atingida pela falta de estrutura, o que segundo Braga, ocorre pois dois fenômenos maiores: as periferias são muitas vezes formadas em territórios que ainda não possuem estrutura hídrica, e o outro são ligados aos “bolsões de pobreza”. Estes bolsões se tratam de indivíduos que se instalam em bairros onde já há estrutura, mas pela informalidade e não planejamento prévio para essa situação, o governo prefere se preocupar mais com a segurança dos que coabitam essa realidade do que arrumar um jeito de levar água para as pessoas que necessitam dela.