Urban Thinkers Campus 2017

Recife | 29 nov a 02 dez

Mudanças de paradigma necessárias para combater o aquecimento global

Por Guilherme Menezes

O INCITI – Pesquisa e Inovação para as Cidades, recebeu, através do Águas: Caminhos para a Sustentabilidade, a mesa Marés Crescentes: aquecimento global e cidades inundadas. Os convidados foram Bruna Cerqueira, mestre em Gestão em Políticas Públicas e membro do ICLEI (Governos locais pela sustentabilidade), Francis Lacerda, doutora em Engenharia Ambiental e pesquisadora do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA, Alexandre Ramos, representando o Comitê da Bacia Hidrográfica do Capibaribe (COBH), e Edson Fly, comunicador social, membro da ação comunitária Caranguejo de Uçá. A mediação foi de Djair Falcão, coordenador de Engenharia do INCITI/UFPE.

Ao longo do debate, foram abordados os riscos futuros e atuais do aquecimento global, como alguns dos palestrantes fizeram questão de enfatizar, como: desertificação, enchentes, inundações de áreas costeiras, entre outros. Foram ainda apontadas possíveis soluções governamentais e de iniciativa popular.

Alexandre Ramos apresentou simulações de como ocorreriam as inundações na cidade do Recife, caso a temperatura aumentasse até quatro graus acima da temperatura média atual. Para mudar essa possível realidade, o pesquisador pontuou a necessidade de mudança de cultura da população e do governo. “Por exemplo, há várias pessoas sem moradia e há vários prédios do centro do Recife onde não tem ninguém morando. Por lei, realmente não pode morar ninguém, porque lá não tem estacionamento! Só que é o centro da cidade, onde muitos indivíduos não precisariam usar carros. Mas a própria gestão incentiva a cultura dos carros e, com isso, só faz crescer a emissão de gás carbônico pela cidade”, declarou Ramos.

Se foi Ramos quem começou a falar mais da participação de toda sociedade, a fim de evitar as previsões de catástrofes decorrentes do aquecimento global, foi Francis Lacerda quem colocou na perspectiva do momento atual, as consequências prejudiciais provenientes do pouco cuidado com a emissão de gás carbônico e outros fatores que culminam nas mudanças climáticas. Segundo a doutora em Meteorologia, alguns dos vários problemas decorrentes do aquecimento global não são algo do futuro e já acontecem em variados lugares do mundo, incluindo, Pernambuco, tais como escassez de água, enchentes, alteração dos ciclos hidrológicos e formação de ilhas de calor.

Educação foi um dos tópicos debatidos no encontro. Foto: Marianne Dafne

Lacerda explicou como o Recife é vulnerável às alterações climáticas. A pesquisadora comentou que alguns bairros do Recife chegam a ter até 6 graus acima da temperatura média da cidade, o que pode trazer males reais à saúde. A meteorologista fez ainda uma breve explicação sobre o fenômeno da desertificação (que está acontecendo em Araripina, por exemplo), a escassez de água, e ao mesmo tempo o aumento de enchentes, que prejudicam as cidades com alagamentos de ruas, destruição de palafitas, etc. “O que acontece é que com o aquecimento global, a água evapora mais rápido e fica ausente por mais tempo. Quando essa água cai é com muita força e num curto período de tempo”, concluiu.

A última apresentação foi realizada com uma maior carga de informalidade, sem slides ou qualquer coisa do tipo. Edson Fly falou sobre os problemas que passam as comunidades pesqueiras, potencializados pelo aquecimento global. “A procissão dos pescadores que acontece todo ano, não houve neste porque uma previsão meteorológica mostrou que não haveria estabilidade nas águas para os barcos. O mangue, por natureza, é uma vegetação muito oleosa e com o aquecimento global pode haver queimadas naturais. Mudanças climáticas, tanto para uma temperatura maior ou menor influenciam diretamente na cultura das tradicionais comunidades pesqueiras”, relata Fly.

Dentre concordâncias entre os convidados da mesa, em que todos falaram sobre a dificuldade da comunicação entre as variadas organizações e a sociedade, houve uma breve discussão, entre Ramos e Fly, sobre a responsabilidade do governo e da população à respeito de uma postura ativa no cuidado com o meio ambiente. Ramos informou que a Prefeitura do Recife, atualmente, tem capacidade de recolher no mínimo 17.000 toneladas de lixo reciclável por mês, mas no atual momento só consegue coletar 2.800, uma vez que a maior parte da sociedade não faz separa o seu lixo para a coleta seletiva. A isto, Fly retrucou dizendo que a gestão também precisa cumprir o seu papel de oferecer informação e estímulo para a população, por meio de ações educativas. “Política pública é para todos e se alguns não conhecem ou não estão engajados, é dever do governo estar sempre indo atrás para incluir toda a sociedade”, pontuou.

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